28/04/2010

Á F R I C A

sigo a picada terra amarela
ladeada de vegetação luxuriante
ouço o trinar das aves nas cores da tela
que o pintor retoca em toques de amante


de verso em verso África no poema
ouço o batuque em volta do pilão
meninas cantam dançam no frenesim do tema
batendo ambas a palma de cada mão


inclinam os corpos olhos ao céu
a sintonia do coro das vozes sem maestro
África bela porque foi que tudo aconteceu
todo um povo ser vitima de sequestro...


sinto ainda os odores da floresta
e ouço os gritos alarmistas dos macacos
vejo as crianças de ventre inchado são o que resta
delapidados os recursos em honra dos patacos


seguindo o trilho de gente vitima da tragédia
a fome a sede a sida a malária a violência
a circuncisão barbárie digna da idade média
onde a civilização enforma e realça a evidência 


de súbito terra alagada uma clareira de bonança
o brilho fulgurante nos olhos de meninos e meninas
entre o capim um cheiro intenso a esperança
ouvem-se rumores no som de batucadas sibilinas 

autor:JRG

21/04/2010

DISSERAM-ME...



foto net


***


disseram-me que era filho de Deus
como todos os Homens a Natureza os Animais
que Ele fizera o Céu a Terra os Mares
antes fora filho de Marte Júpiter Neptuno Zeus
nascido de mitos ou de acasos virtuais
e não esta fragrância entre rochedos ímpares 

disseram-me que era filho da nação
obediente a Deus ao amo aos pais e ao imperador
que na minha essência estava protegido
antes fora filho dum improviso absurdo da razão
criança adulta sem perder da vida o amor
e não este ser adúltero da lei e do viver fingido

disseram-me que era filho do homem pai e mãe
herdeiro dos bons costumes e virtudes
que procriasse trilhando caminhos já iluminados
antes fora filho dum mito ou de ninguém
sobrevivente no meio do caos das leis e das ilicitudes
de onde avultam os sábios mais cotados

disseram-me mentiras doutas e eu acreditei
até que o cérebro confuso explodiu de clarividência
peguei na memória do homem e no pensamento
antes fora tão só filho duma mulher comum sem lei
que é da criação humana a única evidência
e não esta metáfora que me obriga fiel a  juramento

disseram-me então de dentro da milenar memória
que somos seres erráticos meras cobaias
lançados em célula neste espaço por poeiras siderais
a ver se dava vida  ou se vencia a escória
e deu esta mistura de gente que exulta em fúteis vaias
de ter o que não é e ser o que não tem mais

autor: JRG

05/04/2010

APOTEOSE DO SER


imagem Wikipedia




APOTEOSE DO SER





hoje

não quero falar de sexo nem de orgias

que fazem o deleite de corpos sem beleza

nem do tráfico de mulheres crianças de sexo homonímias

para decalque do prazer em vil tristeza

nem de armas estratégicas de defesa que atacam minorias

para gáudio dos que têm o poder e a riqueza


hoje


não quero falar do amor que não perdoa

nem de amigos sempre ausentes quando preciso

nem de fome que escondida medre e doa

aos que por erro ou rebeldia perderam o juízo

nem de Paris Bona Londres Roma Lisboa

porque estou num tempo sem ganho ou prejuízo


hoje


não quero falar de ciência arte tecnologia

que colocam os povos num absurdo de redoma surpresa

nem das origens do homem e da sua bonomia

que o torna predador o mais temido em toda a natureza

nem do surtir da linguagem e da sua mais valia

que demarcou as nações em conceitos de subtil pureza


não


hoje quero cantar a alegria do homem e do poeta

saído do embuste da torpe subserviência

quero cantar que fiz dentro de mim de ti a descoberta

não há amor ou ódio no homem em sua essência

quero cantar nesta euforia de ser nada e ser alerta

que vivemos desterrados para expiar a consciência


não


hoje quero cantar que estamos no limite do castigo

há uma galáxia que rege a vida cósmica

tudo o que somos não é teu ou meu é muito mais antigo

apenas regurgita da memória atómica

quero cantar a alegria de amar e de sonhar contigo

entre flores e mar uma cantiga melódica





autor: JRG